Em tempos difíceis, períodos de crise e incertezas, cresce a importância da Gestão de Pessoas. Nessas situações, é preciso ter um olhar mais cuidadoso para as pessoas no contexto organizacional. É necessário um tratamento especial às práticas de Recursos Humanos. Nesse sentido, retomamos aqui algumas teorias e conceitos, como o efeito Pigmaleão, o efeito Rosenthal, a profecia autorrealizável e a teoria X e Y. O objetivo é fazer uma análise de como essas teorias e conceitos podem ajudar a atravessar este período, na superação de desafios e na busca de novos caminhos e soluções. (Assista o vídeo que deu origem a este artigo ao final deste artigo)
Por que falar de gestão de pessoas com otimismo e fé neste momento?
Porque se a gente se entregar ao pessimismo, se a gente se apegar as visões negativas do futuro, elas podem se concretizar. Na verdade, elas vão se concretizar!
Por isso, as pessoas precisam manter o otimismo, enxergar positivamente nesse período de incertezas que estamos atravessando. Isto é, as pessoas não podem se deixar dominar por sentimentos de insegurança e medo. E nós, profissionais de RH e líderes, precisamos atuar para minimizar todos esses efeitos!
Inclusive, é importante destacar que o que estamos trazendo aqui não se trata de autoajuda, já que a Gestão de Pessoas com otimismo e fé tem tudo a ver com este momento de crise, de pandemia e de quarentena.
Vamos, então, aos conceitos que, se aplicados na prática, podem ajudar muito.
Profecias autorrealizáveis
Uma profecia autorrealizável é uma hipótese ou um boato que, quando se transforma em crença, provoca a sua própria concretização. Isso acontece porque quando as pessoas esperam ou acreditam que alguma coisa vai acontecer, elas agem como se essa coisa já fosse real, e assim, aquilo que era apenas uma hipótese acaba acontecendo de verdade.
Teorema de Thomas
A proposição da profecia autorrealizável foi estudada no campo da sociologia e tem um nome: Teorema de Thomas. O tema foi apresentado em um artigo publicado em 1948 pelo sociólogo Robert Merton.
Aliás, esse fenômeno comportamental foi estudado não só no campo da sociologia, mas também no campo da psicologia, e os resultados desses estudos comprovam que, se as pessoas acreditam que certas situações são ou serão reais, inconscientemente, elas começam a agir de acordo com a sua crença e a situação se concretiza. Os exemplos de como esse fenômeno acontece estão em todos os lados.
O “pânico do papel higiênico”
O “pânico do papel higiênico” é uma dessas situações. Aconteceu no meio da crise do petróleo. Um boato se espalhou pela população de que iria faltar papel higiênico nos supermercados, e acreditando nisso, as pessoas começaram a comprar papel higiênico desenfreadamente. E assim, aquilo que era apenas um boato acabou acontecendo de verdade.
Isso faz lembrar de um fato recente relacionado ao álcool em gel. O boato era que o produto iria faltar, e por isso, do mesmo modo, as pessoas acreditando nisso correram ao supermercado, comprando volumes muito maiores do que precisavam. E do mesmo modo, a falta do produto se concretizou.
Inclusive, esse fenômeno também está registrado no campo da economia, já que se as pessoas acreditarem que um banco vai quebrar, mesmo com boa saúde financeira e liquidez, ele vai quebrar.
Uma coisa boa é que isso acontece para o bem também. Recentemente, uma notícia de redução da propagação da peste chinesa na Europa, animou a fé aqui no Brasil. Qual foi a consequência? O Ibovespa subiu e o dólar caiu.
Efeito Pigmaleão
“Quanto maiores ou melhores forem as expectativas que se têm em relação a uma pessoa, melhor será o seu desempenho”
Efeito Pigmaleão: provavelmente, você já deve ter ouvido falar nesse termo. Mas de onde surgiu essa expressão?
A história de Pigmaleão foi contada pelo poeta romano Ovídio (43 A.C a 18 D.C). Nela, Pigmaleão era o rei da ilha de Chipre e um excelente escultor, porém, conta a história que ele esculpiu a estátua de uma mulher lindíssima, perfeita e se apaixonou por ela. Pigmaleão tratava a estátua como se fosse mesmo uma pessoa, Galatéia era o nome dela. Até que Afrodite, a deusa do amor, ficou penalizada por isso e transformou a Galatéia em uma mulher de verdade. E assim, fez do Pigmaleão um homem muito feliz!
Inspirado por essa história, Bernard Shaw, um dramaturgo Irlandês, escreveu a comédia Pigmaleão, que foi adaptada para o cinema no clássico My Fair Lady.
A força da crença em si mesmo
O filme My Fair Lady conta a história de uma florista simples, que tem um vocabulário pobre, cheio de palavras e expressões de baixo calão. Até que um professor aposta com um amigo que é capaz de transformá-la em uma dama da alta sociedade, e consegue o feito, sendo o principal recurso utilizado nessa empreitada fazer a moça acreditar que ela realmente era uma lady.
Esta frase famosa de Henry Ford resume esse efeito: “Se você acredita que pode ou que não pode, em ambos os casos você está certo.”
Efeito Rosenthal
O efeito Pigmaleão, na psicologia, é chamado de efeito Rosenthal, em virtude do estudo feito por Robert Rosenthal: um professor de Psicologia Social na universidade de Harvard que junto com Elenore Jacobson, diretora de uma escola pública, realizou o experimento com estudantes em 1965.
Sendo realizado da seguinte forma: No início do ano letivo, ele aplicou nos alunos da escola um teste de QI. Em seguida, ele informou aos professores que 20% das crianças tinham alcançado as pontuações mais altas nos testes e passou para eles o nome de alguns alunos, garantindo que eles iriam ter excelentes resultados naquele ano. Já os alunos, não tinham conhecimento dos resultados dos testes.
No final do ano, o teste foi repetido. E qual foi o resultado? Os alunos, indicados com pontuação superior no primeiro teste de QI tiveram um desempenho significativamente melhor no segundo teste.
Conclusão da experiência de Rosenthal
E por que isso aconteceu? Porque Rosenthal elevou a expectativa dos professores com relação àqueles alunos. Uma vez que ao acreditar eles eram melhores, os professores eram mais receptivos, mais encorajadores e se envolviam mais com o aprendizado deles, criou-se um clima de afetividade, de cumplicidade, entusiasmo e confiança. E foi tudo isso que influenciou positivamente o desempenho desses alunos.
Teoria X e Teoria Y
Um pouco antes da experiência de Rosenthal, em 1960, Douglas MacGregor, publicava o livro “O lado Humano da Empresa”, que expunha as teorias X e Y.
Teoria X
Resumidamente, a Teoria X sustenta que as pessoas não gostam de trabalhar. Encaram o trabalho como um mal necessário para receber um salário. Se não tiver um chefe supervisionando, elas param de trabalhar.
Teoria Y
Já a Teoria Y, sustenta o contrário: as pessoas encaram o trabalho como algo natural. Nesse sentido, elas gostam de ter o que fazer, de assumir responsabilidades e sabem se autogerenciar. Assim como, também não dependem de supervisão para cumprir suas responsabilidades. Na verdade, elas fazem isso pela satisfação de fazer um trabalho bem feito. Elas buscam não só o salário, mas também o reconhecimento e a possibilidade de evolução e crescimento.
Lições da Teoria X e Y
Os estudos de MacGregor mostram que gestores que se movem pela Teoria X acabam desenvolvendo equipes que demandam supervisão constante. Por outro lado, os gestores movidos pelas crenças da Teoria Y têm equipes motivadas com o trabalho, as pessoas cumprem suas responsabilidades e apresentam bom desempenho, independente de um chefe supervisionando.
Ou seja, os estudos de MacGregor mostraram não importava quais eram as motivações e os perfis das pessoas antes de trabalhar com esses gestores. De qualquer forma, elas normalmente se transformavam no tipo de pessoas que o gestor esperava que elas fossem.
Teoria X e Y – Efeito Pigmaleão/Rosenthal
Não é difícil enxergar nas teorias X e Y, o efeito Pigmaleão (ou Rosenthal), que transformou a florista mal educada em uma dama da sociedade. Também está presente o efeito Rosenthal, em que os alunos tinham performance superior quando os professores acreditavam que eram mais inteligentes.
As lições dessa reflexão
Precisamos criar a uma profecia autorrealizável positiva. Isso quer dizer que precisamos acreditar num futuro promissor, desenhar esse futuro e fazer acontecer, afinal, isso é gestão de pessoas em tempos difíceis! No período de pandemias e quarentenas essa necessidade cresce exponencialmente!
Precisamos também unir a teoria Y ao efeito Rosenthal. Isto é, depositar nas pessoas a crença de que elas são capazes de acreditar e de construir esse futuro, sendo essa prática fomentada pela empresa, pelas lideranças – desde a alta cúpula – e pelo RH.
Gestão de Pessoas com Otimismo e Fé
A gestão de pessoas com otimismo e fé é uma coisa muito necessária no momento que a gente está atravessando. Entretanto, não é necessária só para esse momento. Isso porque as lições desses estudiosos trazidas aqui são ensinamentos para a vida. Se você for líder, lembre-se que a sua equipe, em grande parte, é o resultado daquilo que você acredita que ela seja! Talvez seja uma boa hora para as lideranças reverem seu comportamento e suas relações com a equipe liderada.
Assista o video que deu origem a este artigo
Sugestão:
Se você for líder, não importa se sua equipe tiver três ou trezentas pessoas, seus resultados dependem em grande parte na maneira com a qual você lida e se relaciona com a sua equipe. Nesse sentido, aqui vão algumas sugestões para você analisar sua própria performance como líder:
Responda estas três perguntas:
- Você acredita na capacidade da sua equipe em fazer o que precisa ser feito e gerar os resultados esperados?
- Quanto maiores ou melhores forem as suas expectativas em relação a equipe liderada, melhor vai ser o seu desempenho?
- Você acredita que as competências dos seus liderados podem ser desenvolvidas?
- Você acredita na proposta da teoria Y?
- Se as suas respostas às questões anteriores foram “sim”, responda: como você está expressando essas crenças em suas palavras e ações no dia a dia?
Denise Lustri – CEO da Cohros
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